A Diretora da EMEBS Helen Keller, Profa. Mônica Lemos Amoroso, encerrou em 28 de abril de 2013, seu ciclo de trabalho na da rede municipal de ensino de São Paulo.
Foram 30 anos de compromisso e trabalho intenso, os últimos 6 anos com a comunidade surda da EMEBS HK, relatados na mensagem escrita por ela e dedicada à todas pessoas que conheceu ao longo destes anos.
Com vocês, MÔNICA AMOROSO...
"Não acredito em despedidas. Creio em fases da vida
que, por estarem acabando dão lugar a outra que chega, nova e desafiadora. Uma fase da minha vida, que é a de funcionária da Prefeitura
de São Paulo chega ao fim. Aposentei. Perguntam o que sinto e minha vontade é
de dizer aquele antigo clichê: missão cumprida. Não é verdade, minha missão na
PMSP não foi cumprida. Cumprido foi só o tempo. Ainda há tanto por fazer...e
muita gente boa, que ainda está na ativa, completará esta missão que não é só
minha, mas sim dos educadores de São Paulo.
Ingressei na Prefeitura como professora de educação
infantil aos 23 anos, por concurso. Filha de diretora de escola pública
municipal, professora pioneira, eu tinha todos os sonhos do mundo! Sonhos de
uma menina que tinha a responsabilidade de ensinar outras meninas e meninos.
Era uma farra! Nesta época conheci e construí sólidas amizades que cultivo até
hoje. Éramos inexperientes, mas tínhamos a alegria e a vontade de sermos
professoras e isso nos trazia uma certa competência que nem nós sabíamos que
tínhamos.
O tempo foi passando, recebi convites para
trabalhar na Secretaria de Educação e lá fui eu enfrentar novos desafios. É
claro que aprendemos muito com vários profissionais, mas a energia e a proximidade
com as crianças acaba nos trazendo de volta para a escola. Foi assim que
aceitei o desafio que me propôs o saudoso professor Sólon: fui preparar a escola
para receber as crianças e inaugurar a EMEI Maria Luiza Moretti Gentile,
na Vila Prudente.
Como fui feliz lá! Identifiquei-me com os profissionais, com
as crianças, com a comunidade e acabei ficando na Assistência e, na ausência do Diretor, na substituição. Como foram importantes esses dez anos de
aprendizado e porque não dizer de experiência. Assim como fazem os médicos
residentes “assistir” o Diretor fez com que eu aprendesse, por observação, a
focar a gestão na melhoria da qualidade do trabalho.
Tive muita sorte: aprendi
com os melhores!!
Gostei muito da gestão escolar e decidi fazer o
concurso para diretor de escola. Soube que a então EMEE Helen Keller estava
sendo dirigida por uma diretora substituta, pois a vaga estava disponível
para escolha. Depois de uma baita briga, consegui acessar meu cargo para
a HK, fato que devo ao querido professor João Gualberto, Presidente do Conselho Municipal de Educação na época e também pela Marisa, presidente do Sinesp. Fui
muito bem orientada!
Um mundo completamente novo abriu-se na minha
frente. Uma nova língua, pessoas diferentes.
Minha experiência com crianças com deficiência restringia-se a casos de
inclusão que atendíamos na EMEI, nenhum surdo. Não conhecia a Língua Brasileira
de Sinais, na qual são ministradas as aulas na escola. Muito bem. Só me
restava o conhecimento que eu tinha de administração escolar, uma visão de
mundo que contemplava a diversidade e muita vontade de fazer um
bom trabalho.
Foi assim que eu iniciei o trabalho na então EMEE: procurando, entre os
pais, funcionários, alunos e professores, aquilo que, no meu entendimento,
precisasse de uma intervenção minha.
Logo nos primeiros dias pude
verificar que a escola, por ter sido construída a muitos anos, tinha barreiras
arquitetônicas que impediam o uso de todos os espaços por parte de alguns
alunos. Com o passar dos dias e meses, fui percebendo que barreiras
físicas são muito fáceis de transpor. Basta contratar um bom prestador de
serviços e pronto. Mas...o que fazer com outras tantas barreiras que impedem
a criança e o adulto de aprender e desenvolver-se, como todos os outros
alunos?
Pois é... Essas são as verdadeiras
barreiras, as invisíveis.
Foi aí que percebi que me
faltava apoio teórico para questões do dia a dia.
Tomei uma decisão: já para a escola!
E lá fui eu fazer uma pós graduação em educação especial com foco em
surdez. Curso de Libras aos sábados. Formação para professores das EMEES? Lá
estava eu. Compra de livros, internet.
Aprendi muito. Inclusive que nunca vou parar de aprender!
Claro que, a duras penas, percebi que as pessoas não são fáceis, assim como eu
também não sou. Senti na pele a dor ser desrespeitada por pessoas que hoje eu
sei: só estavam se defendendo da sua própria insegurança. Como tudo tem um lado
bom, sou do tipo que volta no dia seguinte para trabalhar com as energias
redobradas. Não há baixo astral que se sobreponha à minha capacidade de superar
dificuldades.
Procurei então ouvir apenas minha
consciência e praticar a ética que aprendi, em primeiro lugar, com meus pais.
Aprendi também a deixar claro para todos, alunos, professores e pais que o
aluno estava sempre em primeiro lugar e esta postura fazia com que as coisas
ficassem mais fáceis.
Contei com uma equipe administrativa e docente de
primeira qualidade e posso me orgulhar hoje de ter feito parte desta escola tão
especial.
Conseguimos tanta coisa em tão pouco
tempo que olho agora para trás e quase nem acredito. Vi de perto o nascimento
da escola bilíngue, a cobertura da quadra, da rampa, a aquisição de materiais
maravilhosos, organização dos espaços, projetos inovadores, formação em
serviço...e tantas outras conquistas.
Desta forma fui sendo valorizada e respeitada cada dia mais por todos e
principalmente por quem eu mais queria: pelos alunos e pela comunidade surda.
Aos surdos adultos, líderes da comunidade deixo aqui meu mais profundo
agradecimento. E uma promessa: contem comigo sempre, sempre!!
Aos alunos e pais, sei que poderia ter feito muito mais...infelizmente fiz
apenas o que foi possível nestes poucos anos. Se eu pudesse, ahhh... se eu pudesse
faria até o impossível para que a educação dos surdos atingisse os mais altos
níveis de qualidade.
À minha família, obrigada pela
paciência que tiveram comigo nestes anos. Agora está na hora de curtir, de
colher o que plantei.
A todos os educadores que conviveram comigo desde 1984, às minhas diretoras, e
em especial às Assistentes Angela e Regina meu mais profundo agradecimento.
Vocês foram minhas amigas mais fiéis nesta jornada.
Valeu cada dia, cada minuto. Boa sorte a todos e espero que venham me visitar!"
Mônica Lemos Amoroso
A COMUNIDADE HK DESEJA À PROFa. MÔNICA UMA VIDA PLENA EM FELICIDADE, SAÚDE, ALEGRIAS E SUCESSO, SEMPRE!!
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