A criança chegou na HK em fevereiro, sua mãe portava apenas um papel de transferência para o 5ºano, oriunda do ensino regular inclusivo: 11 anos, surda, com paralisia cerebral e baixo desenvolvimento físico e intelectual.
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Jennifer, a menorzinha, de mãos dadas com os alunos do 5ºano C, sala onde foi matriculada. |
A transferência de uma escola regular para uma EMEBS foi realizada sem nenhum acompanhamento profissional, tampouco recebemos os documentos formais que nos informasse sobre a vida escolar da aluna.
Para não perder tempo, realizei uma avaliação diagnóstica e o resultado não poderia ser mais triste: nada de Libras ou qualquer comunicação, nada que lembre um trabalho de escolarização; desconhece letras, números, quantidades e ordens simples.
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Avaliação Diagnóstica |
Em entrevista com a mãe, descobrimos que as atividades de vida diária também inspiravam cuidados especiais: não tinha autonomia para se locomover, se alimentar e usava fraldas...uma criança avaliada como muito frágil.
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A solidariedade presente nos alunos da HK: auxílio do amigo de classe durante o almoço.
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PRECISEI solicitar o histórico escolar e o relatório pedagógico de aprendizagem da escola regular e para minha surpresa, o conceito máximo estava presente na maioria das disciplinas, classificando-a como apta a frequentar o 5ºano.
Fiquei imaginando o triste cenário de exclusão escolar desta criança: passaram-na a cada ano, até que chegasse aqui, sem os conteúdos mínimos esperados para quem frequentou a escola durante seis anos de sua vida.
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O retrato da solidão da exclusão... |
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Treino do uso da tesoura |
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Percepção de cores e formas |
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Coordenação motora |
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Percepção da linha limite |
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Uso da massinha para tonificar mãos e desenvolver a criatividade |
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Percepção Corporal |
O que nos difere dos colegas do ensino regular, é a especialização e uma vasta experiência no ensino de alunos com surdez, surdocegueira, baixa visão e múltiplas deficiências associadas. Difícil entender porque os pais resistem tanto em buscar um ensino especializado para seus filhos, preferem colocá-los num pseudo "sistema educacional inclusivo",
com resultados precários e tortuosos.
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Jennifer no 5º Ano C |
Enfim, Jennifer chegou na HK, como tantas outras crianças, tardiamente, era hora de arregaçar as mangas, unir forças e buscar meios para incluí-la no agrupamento a que somos obrigados pela legislação, isto é, um 5º ano com alunos fluentes na Libras, em processo adiantado de aquisição da segunda língua, o português escrito e com desenvolvido raciocínio lógico matemático.
Pois bem, a aluna necessitava de ENSINO ESPECIALIZADO INDIVIDUALIZADO, mas assim como a rede regular, somos carentes destes profissionais, em número e qualificação.
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Profa. Márcia Furquim do PACIS, durante atendimento semanal individualizado com a Jennifer, na sala do 5º Ano C |
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números e quantidades |
No período da tarde, onde se concentram aproximadamente 30 alunos surdos com múltiplas deficiências associadas, contamos com o trabalho heroico de uma única especialista que atua no PACIS- Projeto de Apoio à Construção da Identidade Surda, a Profa. Márcia Furquim, que se desdobra em planejar atividades e atender crianças em diferentes níveis de aprendizagem, inseridas nas diversas salas de aula.
Trabalham conosco duas estagiárias de Cefai (Centro de Formação e Acompanhamento à Inclusão), que auxiliam no pedagógico e duas Auxiliares de Vida Escolar, que se ocupam da higiene, alimentação e locomoção destas crianças, número insuficiente de recursos humanos para suprir a demanda destes alunos.
Mais uma vez ressalto nosso diferencial, todos professores possuem formação específica e um olhar especial, sabem exatamente o seu papel neste delicado processo e se unem numa verdadeira força tarefa. Somam-se aos professores, os profissionais de apoio e equipe gestora, todos muitos dedicados na sua maioria.
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Prof. Marcos no Projeto de Apoio Pedagógico |
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Helena, Auxiliar Técnico de Educação, dedica carinho especial durante a alimentação. |
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O acolhimento entre os alunos é natural |
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Assistente de Direção Isabel, acompanha o progresso da aluna |
Para suprir a carência de recursos humanos na escola, estabeleci parceria com uma Pedagoga fluente em Libras, amiga virtual do FACEBOOK, a Elisângela Rodrigues.
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Elisângela, minha parceira, Coordenadora de Creche no período da manhã, faz trabalho voluntário na HK no período da tarde. |
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Uma amizade que começou com a troca de informações no Facebook sobre uma paixão comum: a CAUSA SURDA |
Trabalho VOLUNTÁRIO! Sim, ainda existem profissionais do bem, a Eli se sensibilizou com a história da Jennifer e se propôs a dar apoio pedagógico por algumas tardes, seguindo a minha orientação e da Profa. Márcia do PACIS
Em pouco tempo, já começamos a colher resultados positivos com a "frágil" Jennifer: autonomia para andar, subir e descer escadas, brincar, se alimentar. Já executa ordens simples, relaciona-se bem com todas as crianças e profissionais do período da tarde, que a adoram... Jennifer vive a sorrir!
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O carinho e sensibilidade do Prof. Marcos nas aulas de Artes e do Projeto de Apoio Pedagógico |
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Já se alimenta sozinha! |
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Rega a horta com os amigos |
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Participa de atividades coletivas |
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Adquiriu equilíbrio |
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Até bate corda! |
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Sobe e desce escada |
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Adquiriu segurança! |
Está em processo de aquisição de uma língua, a Libras, a porta de comunicação do Surdo, que lhe permitirá externar o seu mundo e interpretar o que nos cerca.
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Sinal dos alimentos do almoço e identificação das letras do seu nome |
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O ensino também parte dos amigos da classe |
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sinal: borboleta |
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sinal: coelho |
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sinal: passarinho |
Este é apenas um exemplo entre tantos, o trabalho de construção e resgate da auto estima, Identidade e Cultura Surda de uma minoria social e linguística, nosso desafio de todos os dias.
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O retrato da libertação do "eu interior": afinal, EXISTO!! |
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